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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Krishna como arquétipo do Si-mesmo

Por favor, ouve com atenção o que te falarei, pois o conhecimento transcendental sobre Mim (Krishna) é não somente científico, mas também repleto de mistérios (Caitanya Mahaprabhu).

Autor: Frederico Eckschmidt (1)

Govinda, Krishna, a Suprema Personalidade de DeusJung diversas vezes afirmou que não é do interesse e nem o papel da Psicologia Analítica fazer afirmações metafísicas acerca dos temas religiosos, ou seja, se Krishna e Suas manifestações possuem ou não uma existência real. Apenas é possível estudá-lo como um símbolo da totalidade psíquica que Jung denominou de Si-mesmo.

Neste sentido o que se pode constatar é que "o simbolismo da totalidade psíquica coincide com a imagem divina, embora não possa demonstrar que a imagem divina é o próprio Deus ou que o Si-mesmo substitui Deus" (Jung).

Assim, o objetivo deste estudo é analisá-lo e fazer uma comparação com as teorias da Psicologia Analítica para verificarmos sua validade para nossa ciência enquanto uma representação psíquica da dinâmica relação entre o ego e o Si-mesmo, visto que é um texto profundamente filosófico e psicológico.

De forma semelhante à figura mítica de Jesus, não nos interessa as bases históricas e arqueológicas de sua vida real, mas sim sua representação enquanto arquétipo da totalidade do Si-mesmo. Dessa maneira, não importa se Govinda, Krishna, tenha ou não existido como pessoa, mas sim, sua figura enquanto símbolo de "Deus ou o Atman, enquanto etapa do Si-mesmo individual e essencial do cosmos, ou o Tao, enquanto estágio individual e processo correto dos acontecimentos universais" (Jung).

O mito de Govinda remonta à pré-história, desde as primeiras sociedades agrícolas que habitavam a região do vale do rio Ganges e do Yamunâ. Ele é representado por um vaqueirinho que toca flauta e realiza muitas aventuras, chamados de passatempos (lîlâ).

Segundo os textos da escola vedanta (Vedanta-darshana), a manifestação de Govinda, Krishna, supostamente encarnou há aproximadamente 5.100 anos atrás, em Mâthura, na Índia, cidade que ainda hoje é um importante centro de peregrinação situada próxima a Nova Delhi, no estado de Uttar Pradesh.

No Bhagavad-gîtâ é dito que a Suprema Personalidade de Deus, Krishna, aparece pessoalmente quando há um declínio da religião no planeta Terra e também para a redenção do Universo (Bg.4.7).

Dessa forma, há muito tempo atrás, a deusa Bhumi (a mãe-Terra personificada), preocupada com o crescente poder militar dos demônios (materialistas) orou para o Criador deste Universo, o Senhor Brahmâ, em busca de alívio, pois eles poderiam destruir todo o planeta.

Shukadeva Gosvâmî inicia o advento de Krishna da seguinte maneira: "Certa vez, quando estava sobrecarregada por centenas e milhares de falanges militares de vários demônios presunçosos que se faziam passar por reis, a mãe Terra aproximou-se do Senhor Brahmâ em busca de alívio" (SB.10.1.17).

Compadecido com a lamentação da mãe Terra, o Senhor Brahmâ, juntamente com o Senhor Shiva e outros semideuses, a levou para oferecer orações ao Senhor Vishnu, que repousa eternamente na serpente Ananta (Anantadeva). Enquanto estava em transe místico, orando, o Senhor Vishnu informou ao Senhor Brahmâ que a Suprema Personalidade de Deus apareceria na Terra, na família Yadu, para acabar com a opressão criada pelos demônios. Para isso, ele ordenou aos semideuses para que aparecessem, através de suas porções plenárias, como filhos e netos na família dos Yadus.

Conforme o desejo do Senhor Krishna, apareceria primeiramente Suas principais potências: o Senhor Anantadeva, como Balarâma, pois é Sua potência de sustentação e Sua irmã Yogamâyâ (a Natureza material) _na forma de Subhadrâ.

Assim combinado, a história do advento (manifestação) de Krishna inicia durante o governo de um demônio chamado Kamsa, filho do rei Ugrasena.

Ele tinha uma irmã chamada Devakî, que tinha acabado de se casar com um homem chamado Vasudeva. Logo após a festa, para agradar sua irmã, ele tomou as rédeas dos cavalos e tornou-se o quadrigário do casal. Durante o trajeto ele ouviu uma voz, como uma revelação, dizendo: "seu patife tolo, o oitavo filho de sua irmã te matará"! (SB.10.1.34).

Ao ouvir este presságio dito por Nârada Muni, Kamsa resolveu acabar com o problema matando sua irmã imediatamente ali mesmo. "[...] Ele agarrou sua irmã pelo cabelo com a mão esquerda e com a mão direita empunhou a espada para decapitá-la" (SB.10.1.35). Desejando apaziguar a ira de Kamsa, Vasudeva, com toda sua eloqüência, convenceu seu cunhado a não matar sua mulher, principalmente após o seu casamento, pois isso não ficaria bem e ele perderia todo seu poder e reputação.

Vasudeva então prometeu que, se o problema fosse o filho, ele não precisaria matar sua mulher, pois ele entregaria todos os seus filhos a ele na medida em que eles fossem nascendo.

Kamsa, percebendo o problema social que ele teria se matasse sua irmã, resolveu aceitar. Ele pensou: "Se eu matá-la, minha reputação, opulência e duração de vida decerto minar-se-ão" (SB.10.2.21). Como ele queria garantias que os filhos seriam entregues, ele prendeu o casal no porão de seu palácio, em Mâthura, a capital de todos os reis da dinastia Yadu.

Após matar seis filhos do casal, uma porção plenária de Krishna entrou no ventre de Devakî como o sétimo filho. "Essa porção plenária é saudada pelos grandes sábios como Ananta [o Senhor Balarâma], que pertence à segunda expansão quádrupla de Krishna" (SB.10.2.5). E assim o Senhor Krishna ordenou a Yogamâyâ:

"Dentro do ventre de Devakî está Minha expansão plenária parcial, conhecida como Sankarshana ou Shesa. Transfere-O facilmente ao ventre de Rohinî [outra mulher de Vasudeva que vivia escondida de Kamsa em Vrindâvana]. Ó auspiciosíssima Yogamâyâ, então, repleto de minhas seis opulências, aparecerei como filho de Devakî, e tu aparecerás como filha de mãe Yashodâ, a rainha de Mahârâja Nanda [irmão de Vasudeva por parte de pai, que o estava ajudando]" (SB.10.2.8 e 9).

Passado algum tempo, quando o filho de Devakî foi atraído e transferido para o ventre de Rohinî por Yogamâyâ, Devakî parecia ter perdido o filho espontaneamente. "Por isso, todos os habitantes do palácio lamentaram bem alto: 'Oh! Devakî perdeu seu filho!'" (SB.10.2.15).

Passados alguns dias houve a concepção da Suprema Personalidade de Deus, que primeiramente apareceu no coração de Vasudeva e depois transferiu-Se para o coração de Devakî.

Na noite em que nasceu o oitavo filho, o Universo inteiro transbordou de todas as qualidades em que existia bondade, beleza e paz.

"Vasudeva viu então a criança recém-nascida, que tinha maravilhosos olhos de lótus e em Suas quatro mãos portava as armas ?anka, cakra, gadâ e padma [búzio, disco, maça e lótus]. Sobre Seu peito havia a marca Shrîvatsa e em Seu pescoço, a reluzente jóia Kaustubha. Vestia de amarelo, o corpo negro como uma nuvem densa, Seu cabelo em desalinho e crescido, e Seu elmo e brincos incomumente cintilantes, cravejados da jóia preciosa Vaidûrya, a criança, adornada com um cinto, braceletes, pulseiras e outros ornamentos brilhantes parecia muito maravilhosa" (SB.10.3.9 e 10).

Em seguida, tendo observado que seu filho tinha todas as características da Suprema Personalidade de Deus, Devakî, que tinha muito medo de Kamsa, orou para que a criança se tornasse como uma criança humana normal, visto que Sua forma não era natural neste mundo.

Exatamente quando Vasudeva, recebendo inspiração da Suprema Personalidade de Deus, estava a ponto de levar da sala de parto a criança recém-nascida, Yogamâyâ, a energia espiritual do Senhor, nasceu como filha de mãe Yashodâ, rainha de Mahârâja Nanda.

Por sua influência (mâyâ também significa ilusão), todos os porteiros e outros habitantes caíram num sono profundo e as portas, que estavam fechadas com fortes travas e correntes de ferro, abriram-se. Como naquela noite também chovia muito, Ananta-nâga (Sua expansão plenária) abriu seus inúmeros capelos e seguiu Vasudeva desde a porta, protegendo a ele e a criança.

Também por causa da chuva, o rio Yamunâ transbordou, mas em seguida, ele miticamente se abriu, permitindo a travessia de Vasudeva. Este fato lhe deu a chance de trocar seu filho Krishna, por sua irmã Subhadrâ, que nascia ali perto, em Gokula, no lar de Mahârâja Nanda.

Ele então retornou ao palácio de Kamsa e colocou a criança no colo de Devakî, voltando a ser um prisioneiro como antes e salvando Krishna.

Os cadeados novamente se fecharam por influência de Yogamâyâ, que começou a chorar como uma criança normal, despertando os guardas. Eles informaram imediatamente a Kamsa que a criança havia nascido e ele veio pronto para matá-la. A criança então escapou de suas mãos e transformou-se em Durgâ, a deusa de oito braços. Ela então disse a Kamsa: "Ó Kamsa, seu tolo, que te adiantará matar-me? A Suprema Personalidade de Deus, que desde o princípio tem sido seu inimigo e que decerto te matará, já nasceu em outra parte" (SB.10.4.12).

E assim Kamsa mandou matar todas as crianças da região que nasceram nos últimos dez dias, de forma muito semelhante ao ocorrido nos nascimentos de Moisés e Jesus.

Passados alguns dias, Mahârâja Nanda e sua família mudaram-se para Vrindâvana, que fica no distrito de Mâthura, e por isso, este é o local onde Krishna passou sua infância. Essas três cidades são relativamente próximas umas das outras.

Outra cidade em que viveu Krishna é Dvârakâ, supostamente construída por Ele, próximo à Mumbai (Bombaim), e é um sítio arqueológico importantíssimo, pois boa parte dos sítios estão submersos, assim como conta a lenda. Segundo Caitanya, Krishna

"manifesta Sua própria forma em Mâthura e em Dvârakâ. Ele desfruta de passatempos de diversas maneiras, expandindo-Se nas formas quádruplas.
Vâsudeva, Balarâma, Pradyumna e Aniruddha são as formas quádruplas primárias de quem todas as outras formas quádruplas se manifestam. Todas elas são puramente transcendentais.
Somente nestes três locais [Dvârakâ, Mâthura e Gokula] é que o Senhor Krishna todo brincalhão executa Seus passatempos intermináveis com Seus associados pessoais.
Nos planetas Vaikunta do céu espiritual, o Senhor manifesta sua identidade como Nârâyana e executa passatempos de diversas maneiras (Cc.5.23, 24 e 25).

Inicialmente o que chamou-me a atenção no mito da encarnação de Krishna foi de como ele representa o mecanismo de ação psíquica da conscientização do arquétipo, manifestando para isso o aspecto quatripartido da divindade simbolizado neste mecanismo.

As expansões Vâsudeva, Balarâma, Pradyumna e Aniruddha, representam a base psíquica fundamental para ocorrer a manifestação do ego (semelhante aos instintos), ou seja, a consciência, a força vital, a inteligência e a mente.

Esta visão quaternária da divindade é uma visão comum nos relatos históricos sobre o tema. Como exemplo podemos verificar essa afirmação na "visão de Ezequiel, o 'Rex gloriae' com os quatro evangelistas, a Barbelo = Deus em quatro, no Gnosticismo" (Jung). Há também manifestações em que Deus aparece como uma díade: o Tao formado pela união do Yin e do Yang, na China, o Deus Hermafrodito de Platão, o pai-mãe, etc. (Jung) e como uma figura humana: a criança, o filho, o Anthropos ou uma personalidade individual: Cristo, Muhammad, Buddha e o Senhor Caitanya Mahâprabhu.

Na filosofia vaishnava, a figura de Krishna corresponde a todos os símbolos do Si-mesmo e, conhecê-lO, equivale à Pedra Filosofal dos alquimistas. Segundo os ensinamentos de Caitanya, ter 'consciência de Krishna' é saber nossa posição em relação a Ele, ou seja, saber a posição do homem (Ego) em relação a Deus (Si-mesmo) e perceber-se ao mesmo tempo igual e diferente (bedhâbedha) a Ele.

Jung faz um comentário sobre este paradoxo citando que o alquimista sabia que o Si-mesmo não estava na consciência do eu, mas em algum lugar fora dela. Psicologicamente o Si-mesmo encontra-se em nós, mas naquilo que somos e ainda não conhecemos, ou seja no inconsciente. Por isso o alquimista precisava situar seu arquétipo exteriormente no espaço e, assim, o centro ficava, paradoxalmente, no homem e ao mesmo tempo fora dele, como indicado por Dorn. Porém,

"a união dos contrários na pedra só será possível se o próprio adepto se tornar uno. A unicidade da pedra corresponde à individuação, à unificação do homem. Diríamos que a pedra é uma projeção do Si-mesmo unificado" (Jung).

Segundo Jung:

"Dorn identifica o centro transcendente do homem com a imago Dei [imagem de Deus]. Esta identificação permite-nos entender por que motivo os símbolos alquímicos da totalidade valem tanto para o "arcanum" presente no homem como para a divindade, e porque, em suma, substâncias como o "mercurius" [mercúrio] e o "súlfur" [enxofre] ou elementos como a água e o fogo, são relacionados com Deus, com Cristo ou com o Espírito Santo. E Dorn vai mais longe ainda, conferindo o predicado do ser única e exclusivamente a este [...] si-mesmo, que se identifica com a divindade".

Em Sua encarnação pessoal, Krishna também representa o Homem Cósmico original, o Mahâ-Purusha (o Grande Desfrutador). É nessa forma que ele Se auto-manifesta através de sua potência de lîlâ (passatempo), o Senhor Balarâma.

Em sua forma impessoal, Brahman, Ele é compreendido como uma forma sutil de energia semelhante ao significado de mana, do Tao chinês ou a idéia arquetípica do vazio quântico (de onde tudo pode surgir). É descrito também de maneira semelhante à visão gnóstica dos naassenos de "ennóia". Segundo eles "essa essência é ao mesmo tempo, masculina e feminina" (Jung, 1951/2000, p. 191), da mesma forma como os vaishnavas afirmam sobre Râdhâ e Krishna.

É desta essência que "provém o pai e a mãe" (Elenchos). No hinduísmo essa afirmação corresponde ao Prajapati, o Senhor Shiva, o varão perfeito e sua consorte Parvati (Shakti). Ela "é composta de três partes: do elemento racional (noëron), do elemento psíquico (psychikon) e do elemento terreno (choïkon)" (Jung).

Na Índia portanto, a compreensão de Deus é fruto de uma ciência milenar formada pelas experiências introspectivas de vários sadhus e rishis (santos) e por isso, essas formas são manifestações perfeitas do arquétipo do Si-mesmo.

http://www.psicoanalitica.com.br/krishna.htm

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