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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Nascimento, Vida, Doutrina e Morte do Senhor Krishna


O Maha Avatar Krishna é tido como o responsável pela introdução da noção messiânica no mundo antigo, o introdutor da doutrina da imortalidade da alma e do verbo divino revelado ao homem.
Margareth G. Schulz (Devi Dasika)

A figura central do Bhagavad Gita é Krishna. Os hinduístas adoram várias encarnações de Deus, como instrutores que, de tempos em tempos, aparecem segundo as necessidades do mundo para manter a justiça e destruir a maldade. Assim, cada caminho hinduísta adora uma destas encarnações da Divindade, e Krishna é quem tem maior número de devotos: dizem que Ele é superior aos demais porque, enquanto encarnado, possuía 50% da energia de Narayana, sendo então um Maha Avatar.
Durante toda sua vida, o Senhor Krishna praticou os admiráveis ensinamentos que predicava e, assim, dizia: “Conhece o segredo da vida quem, em meio à maior atividade, produz a mais doce paz, e é ativo em meio à mais profunda calma”. Ensinava que, para chegar à ação, é necessária a não-ação, e a não-ação na ação; ou seja, a calma na atividade, e a atividade em calma; é necessário não se apegar e nem se identificar com qualquer coisa externa, e trabalhar sem apego ao fruto da ação, porque a aflição não provém das obras, e sim do apego ao fruto dessas mesmas ações. Assim, devemos considerar o dinheiro, a fama, a família, como meios do propósito para cumprirmos nosso dever, mas não como absolutos fins da vida. Unicamente, temos de nos apegar por devoção ao Senhor. Trabalhemos pela família, amemos a ela, sacrifiquemo-nos cem vidas se necessário for, mas não nos identifiquemos com ela.
A vida de Krishna foi exatamente o exemplo desses ensinamentos. Ele era de fina estirpe, e estava profetizado que um descendente daquela família seria rei de Madura, cujo trono estava ocupado pelo tirano Kansa. Este, ao inteirar-se de que havia nascido um filho no seio da família profetizada, e não sabendo o ponto fixo de seu nascimento, ordenou a matança de todos as crianças recém-nascidas.
Quando Krishna nasceu, um ponto de luz celestial iluminou o lugar e, segundo conta a divina lenda, o recém-nascido exclamou: “Sou a luz do mundo e nasço para o bem de todos os homens”. Os sábios afirmaram que Deus havia nascido, e foram se render a Ele, homenageando-O, como também aconteceu com os magos que adoraram o menino Jesus de Belém.
Os ensinamentos desse grande instrutor mostram que sua tônica é a renúncia, a condição de não-paixão, o desapego; mas não a indiferença, que é algo muito diferente e sem valor espiritual. Krishna ensina que o genuíno amor se deve somente a Deus. Não devemos cometer o engano de colocar nosso amor, nosso afeto, nas coisas mundanas e temporais, porque a inevitável queda desses afetos nos causaria aflição. Deus é o único ser imutável e Seu amor nunca falha. Seja lá o que formos, o que fizermos, Ele sempre nos olha com misericordioso amor, sem cólera, porque sabe que caminhamos para a perfeição.
De todos os ensinamentos, inferimos que todo dever é sagrado. Não há no mundo dever algum a que possamos qualificar de servil; todo trabalho é tão meritório como o do imperador em seu trono. Os ensinamentos de Krishna são de evidente valor prático, pois nos estimulam a cumprir pacificamente nossos deveres da vida social.

Nascimento de Krishna
A virgem Devaki, irmã do tirano Kansa, foi escolhida pelos santos rishes (sábios), para ser a mulher que iria trazer ao mundo um deva (anjo). Foi acolhida por Vasichta e guiada até Ele por Mahadeva (o grande anjo), sendo recebida com enorme carinho, pois ela tinha deixado o mundo das misérias para viver ao lado dos santos. Eles lhe disseram: “No seio de uma mulher, o raio do esplendor divino deve receber uma forma humana.” Os rishes presentes se inclinaram diante de Devaki, e Vasichta disse: “Esta será nossa mãe, porque dela nascerá o Espírito que deverá nos regenerar. Viverá entre as mulheres virtuosas e os mistérios se cumprirão.”
Um dia, Devaki caiu em um êxtase profundo. Ouviu uma música celeste, como um oceano de harpas e de vozes divinas e, de repente, o céu se abriu em abismos de luz. Milhões de seres esplendidos olhavam-na e, em um raio deslumbrante, o Sol dos Sóis, Mahadeva, lhe apareceu em forma humana. Iluminada pelo Espírito dos Mundos, ela perdeu o conhecimento e, em uma felicidade sem limites, concebeu o filho divino.
Quando sete luas já tinham se passado e descrito seus círculos mágicos ao redor da selva sagrada, ela foi chamada pelos mestres que lhe disseram: “A vontade dos Devas se cumpriu. Tu concebeste na pureza do coração, e no amor divino. Virgem e mãe, te saudamos. Um filho nascerá de ti, e será o salvador do mundo. Teu irmão, Kansa, te busca para matar o fruto que levas em teu seio. É necessário escapar à sua perseguição. Os irmãos mais velhos irão te guiar até o pé do monte Meru. Ali, darás à luz ao teu filho Divino, e o chamarás Krishna, O Consagrado. Que Ele ignore sua origem e tudo o mais. Não fales d’Ele nunca. Viva sem temor, pois velaremos sobre ti.”

Infância
Devaki foi morar com os pastores do monte Meru, aos pés do qual se estendia um vale, e ali ela encontrou um refúgio contra as perseguições de seu irmão Kansa.
O filho maravilhoso desta mulher cresceu entre os rebanhos e os pastores. Chamavam-no de O Radiante, porque só com sua presença, seu sorriso e seus olhos, tinha o dom de difundir a alegria. Animais, crianças, mulheres, homens; todo mundo o queria, e Ele parecia querer a todos, sempre sorrindo para sua mãe, jogando com as ovelhas e com as crianças de sua idade, e falando com os velhos.
Krishna criança não tinha temor algum; cheio de audácia, executava movimentos surpreendentes. Às vezes, ia para a floresta e se recostava sobre o musgo, abraçava as jovens panteras e abria-lhes a boca sem que elas se atrevessem a mordê-lo. E, sobre todas as coisas e todos os seres, Krishna adorava sua jovem mãe, tão bela e radiante, que lhe falava do céu e dos Devas, de combates heróicos e de coisas maravilhosas que ela havia aprendido com sua família.
Quando Krishna tinha quinze anos, sua mãe foi chamada a seu antigo povoado, e desapareceu sem dizer adeus a seu filho. O patriarca Nanda lhe disse que ela tinha feito uma viagem muito longa e, por isso, não sabia quando ela voltaria. Assim, Krishna caiu em uma meditação tão profunda que até as crianças se isolaram d’Ele.
Dirigindo-se ao Monte Meru para obter respostas, lá ficou por semanas, até que surgiu à Sua frente, um velho de elevada estatura, vestido com um traje branco. Este senhor perguntou-lhe por quem ele estava esperando, e Krishna respondeu que estava à procura de sua mãe. O velho respondeu que sua mãe se encontrava na presença d’Aquele que é imutável. Assustado, o menino perguntou então se ela iria voltar um dia, ao que o velho responde que sim, mas só quando a filha da serpente se render ao filho do touro. E lhe diz o seguinte: “Então matarás o touro, e afastarás a cabeça da serpente”.
Quando Krishna desceu do monte, estava totalmente transtornado. Uma nova energia parecia irradiar de seu ser. Ele então reuniu seus amigos, e passaram a defender os bons e a combater os maus. Foi atrás dos touros e das serpentes, lutou contra as bestas ferozes, libertou tribos oprimidas. Mesmo assim, seu coração permanecia triste, pois sua alma tinha apenas um desejo oculto: voltar a ver sua mãe e encontrar novamente o ancião.

No Céu dos Devas
Quando voltou para sua antiga terra natal, Krishna passou a sonhar com combates celestiais no infinito dos céus. Durante o sono, Ele vibrava uma melodia suave e angelical. Atraídas pela música, as golpis, as filhas das mulheres do vilarejo, ficaram enamoradas por Ele. Nichdali e Saraswati, filhas de Nanda, se apaixonaram por Ele, e resolveram propor que Ele as desposasse. Krishna ficou pensativo, passando seus braços ao redor da cintura de ambas. Primeiro, pousou sua boca sobre os lábios de Saraswati; em seguida, sobre os olhos de Nichdali, experimentando através destes dois longos beijos o sabor estonteante e voluptuoso de toda a terra. Ele lhes disse: “Amo-as incondicionalmente; não amarei somente um ser, nunca; somente amarei com amor eterno. Para Eu amar um só ser, seria necessário que a luz se extinguisse do dia, que um raio caísse em meu coração e que uma alma se lançasse fora do céu.”
E assim, ambas voltaram para casa, tristes e chorosas. Na noite seguinte, as golpis se reuniram para seus jogos, mas em vão esperaram seu Mestre. Ele havia desaparecido, não deixando mais que sua essência, um perfume de seu ser: os cantos e as danças sagradas.
Deste momento em diante, Krishna procurou seus antepassados, ainda em busca de notícias de sua mãe e do velho ancião. Deparou-se com a inveja e ira de seu tio, o rei Kansa; teve encontros com demônios de toda a estirpe e brigou contra toda a ilusão que chegava até Ele.
Durante o seu caminhar, Krishna encontrou um centenário, Vasichta, que vivia há quase um ano numa cabana escondida no local mais profundo da selva santa; ele já se tinha libertado das leis da matéria e das ações egoístas dos homens. De seus olhos de cego saía um resplendor interno de vidente e, quando Krishna o viu, reconheceu-o, sabendo que era “o sublime ancião”. O velho estendeu seus braços em direção a Ele, e disse: “Om”.
Ao rei Kansa, que perseguia Krishna, o velho disse que ali estava Aquele que iria destruir seu reinado. Pálido de ira, Kansa estendeu seu arco e lançou uma flecha contra Krishna, mas seu braço tremeu e a seta foi cravar-se no peito de Vasichta. Krishna ecoou um grito terrível vendo-a no corpo do santo, parecendo ter entrado em seu próprio coração, de tal modo sua alma havia se identificado com a do rishi (homem santo). Toda a dor do mundo transpassou a alma de Krishna, e o velho murmurou: “Filho de Mahadeva, por que gritas? Matar é uma ação tão absurda que só os profundos ignorantes, os escravos do ego, a praticam. A flecha não pode ferir sua alma. Eu volto Àquele que não se muda jamais, sendo Ele eternamente imutável. Que Deus receba minha alma. Mas tu és o eleito salvador do mundo. Em pé, Krishna.”
Sua alma, unida à do ancião pelo poder da simpatia, subiu nos espaços, elevando-se ambos ao sétimo céu dos devas, até o Pai de Todos os Seres, ao Sol dos Sóis, Mahadeva, a Inteligência Divina.
Ambos submergiram em um oceano de luz e, bem ao centro, Krishna viu Devaki, sua mãe radiante, sua mãe glorificada que, com um sorriso inefável, lhe estendia os braços e atraía-o a seu seio. Milhares de devas vinham beber na radiação da Virgem-Mãe, como em um foco incandescente, e Krishna se sentiu como reabsorvido em um olhar de Amor de Devaki.
Então, do coração da mãe luminosa, viram-se raios que atravessaram todos os céus. Ela sentiu que Krishna era a alma divina de todos os seres, a palavra de vida, o Verbo criador superior da vida universal.

Ensinamentos
Quando Krishna voltou a si, a selva estava sombria e torrentes de chuva caíam sobre a cabana. O “ancião sublime” já não era mais do que um cadáver, mas Krishna se levantou como um ressuscitado. Um abismo o separava do mundo e de suas vãs aparências. Ele havia percebido a grande verdade e compreendido sua missão. O rei Kansa, cheio de espanto, corria em seu carro, perseguido pela tempestade, com seus cavalos fustigados por mil demônios.
Krishna foi saudado pelos anacoretas, o povo da aldeia de sua mãe, como o sucessor esperado e predestinado de Vasichta. Em seguida, se retirou ao Monte Meru para meditar sobre sua doutrina e o caminho da salvação para os homens, o que durou sete anos; até que sentiu ter dominado sua natureza terrena por meio de sua natureza divina, e que se havia identificado grandemente com o sol de Mahadeva para merecer o nome de filho de Deus. Depois, chamou os anacoretas jovens e anciãos para revelar-lhes sua doutrina. Eles encontraram Krishna totalmente modificado, bastante purificado e engrandecido; o herói havia se transformado em Santo; não havia perdido sua força de leão, mas ganhara a doçura das aves.
Entre os primeiros que o ouviram estava Arjuna, um descendente dos reis solares, um dos Pándavas destronados pelos Kauravas, os reis lunares. Arjuna, um jovem apaixonado, mas pronto a se desencorajar e a cair em dúvida, entusiasmou-se com as doutrinas de Krishna. Este, sentado sobre os cedros do monte Meru, começou a falar aos seus discípulos as verdades inacessíveis aos homens que vivem na escravidão dos sentidos. Ensinou-os a doutrina do atma imortal, de seus renascimentos, e de sua união mística com Deus. O corpo envolve o atma, ou seja, a alma, e este corpo é finito; mas o atma, que habita um corpo material, é invisível, incorruptível e eterno. O homem terrestre é triplo como a divindade que reflete: inteligência, atma e corpo.
Se o atma se une à inteligência, alcança satwa, a sabedoria e a paz. Se o atma permanece incerto entre a inteligência e o corpo, então está dominado por rayas, a paixão, e vai de objeto em objeto, em um círculo fatal. Se, finalmente, o atma abandona o corpo, então cai em tamas, o sem-razão, a ignorância, a morte temporal.
Jamais escapamos da lei suprema e obedecemos a ela sempre, disse Krishna; eis aqui o mistério dos renascimentos. Pressentindo esse momento de profundo interesse de Arjuna sobre os mistérios da vida, Krishna concluiu: “Escuta um grandíssimo e profundo segredo, o mistério soberano, sublime e puro. Para se alcançar a perfeição, tem de se conquistar a ciência da unidade (síntese ou yoga), que está acima da sabedoria; há de elevar-se ao Ser Divino, que está acima do atma, sobre a própria inteligência. Mas este Ser Divino, este amigo sublime, está em cada um de nós, porque Deus reside no interior de todo homem, mas poucos sabem encontrá-Lo. E é esta a via de salvação. Uma vez que tenhas pressentido o ser perfeito que está sobre o mundo e em ti mesmo, decide-te abandonar o inimigo, que toma a forma do desejo (por coisas materiais). Domina tuas paixões. Os gozos que procuram os sentidos são como as matrizes dos sofrimentos que hão de vir. Não faça somente o bem: seja bom. Renuncia ao fruto de tuas obras, mas que cada uma de tuas ações seja como uma oferenda ao Ser Supremo. Aquele que se rende a Deus, alcança a perfeição. Unido espiritualmente, alcançarás esta sabedoria espiritual que está acima do culto das oferendas, e sentirás uma felicidade divina, porque aquele que encontra em si mesmo sua felicidade, seu gozo e, ao mesmo tempo, também sua luz, é um com Deus. E, sabendo a alma que tenha encontrado Deus, estará liberta dos renascimentos e da morte, e beberá a água da imortalidade.”

Profeta de Vishnu
Depois de haver instruído seus discípulos no monte Meru, Krishna foi com eles até as margens do Rio Ganges, para converter o povo, e a multidão se agrupava ao seu redor. O que pregava ao povo era a caridade ao próximo. Ele dizia: “O mal que praticamos aos nossos próximos, nos perseguem como nossa sombra do corpo. As obras que têm como base o amor ao próximo são as que devem ser ambicionadas pelo justo, pois serão as que pesam mais na balança celeste. Se acompanhas os bons, teus exemplos serão inúteis; não temas viver entre os maus, para conduzi-los até o bem”. Quando os semi-sábios, os incrédulos, lhe pediam explicações sobre a natureza de Deus, respondia: “A ciência do homem é vã; todas suas boas ações são ilusórias quando não sabe relacioná-las a Deus; somente Deus pode compreender Deus.”
Kansa reinava ainda em Madura, e tentou capturar Krishna, sem sucesso. Kansa triplicou sua guarda e mandou colocar cadeados em todos os portões do palácio. Certo dia, ouviu um grande ruído na cidade, gritos de alegria e de triunfo. Os guardas lhe trouxeram a notícia de que era Krishna que entrava em Madura, e que todo o povo rompia suas portas para recebê-Lo.
Todos aclamavam e saudavam Krishna como vencedor da serpente, o herói do monte Meru; mas, acima de tudo, como o profeta de Vishnu. Ele se apresentou ao rei Kansa e sua mulher, e resolveu mandá-los a um lugar de penitências, com a finalidade de que eles observassem seus crimes.
Passados alguns dias, Krishna consagrou seu discípulo Arjuna, o mais ilustre descendente da raça solar, como rei de Madura, e deu-lhe a autoridade suprema dos brâmanes, que se converteram em instrutores dos reis. Krishna continuou sendo chefe dos anacoretas, que formaram o conselho superior dos brâmanes.
Então, construíram para si mesmos uma cidade forte entre as montanhas, chamada Dwarka, no centro da qual se encontrava o templo dos iniciados, cuja parte mais importante estava oculta no subterrâneo.
No entanto, quando os reis do culto lunar souberam que um rei do culto solar havia subido ao trono em Madura, e que os brahmanes iam ser os donos da Índia, formaram entre si uma poderosa liga para derrubar o trono. Arjuna, por sua parte, agrupou ao seu redor todos os reis do culto solar, da tradição branca, ária, védica.

Morte de Krishna
Os dois exércitos se encontravam frente a frente, e a batalha era eminente. O Senhor dos Espíritos e o rei de Madura contemplaram os dois exércitos imensos. Brilhavam os fios das malhas douradas dos chefes, e milhares de guerreiros, cavalos e elefantes esperavam o sinal do combate. Neste momento, o mais ancião dos Kauravas assoprou a grande concha com um rugido de leão, e assim deu-se o início ao combate.
Krishna se despediu de seus discípulos, porque estava seguro da vitória dos filhos do sol. Ele havia compreendido que, para fazer valer sua religião aos vencidos, era preciso ganhar sobre sua alma uma última vitória, mais difícil do que a das armas. Da mesma forma que o santo Vasichta havia sido morto para revelar a verdade suprema a Krishna, assim Krishna deveria morrer voluntariamente sob os golpes de seu inimigo mortal, para implantar no coração de seus adversários a fé que Ele havia ensinado aos seus seguidores e ao mundo.
O filho de Devaki queria morrer longe dos homens, perto do Himalaia, onde se sentiria mais perto de sua mãe radiante, do sublime ancião e do sol de Mahadeva. Krishna partiu, e somente Saraswati e Nichdali o seguiram, com sua permissão. Após alguns dias de viagem, elas questionaram o Mestre o porquê daquilo? E Krishna respondeu: “É necessário que o filho de Mahadeva morra atravessado por uma flecha, para que o mundo acredite em sua palavra.”
Pediu então que orassem durante sete dias. Após o sétimo dia, os arqueiros do rei Kansa chegaram próximo do Mestre: eram soldados rudes, de rosto amarelado e negro. Ao ver a figura estática do santo, se detiveram. Primeiro, o injuriaram, depois lhe jogaram pedras; mas Ele não saía de sua imobilidade. Logo, os arqueiros se colocaram à distância e começaram a atirar.
Quando a primeira flecha atravessou Seu corpo e o sangue brotou, Krishna exclamou: “Vasichta, os filhos do sol venceram”. Quando a segunda flecha vibrou em sua carne, disse: “Minha mãe radiante, que os que me amam entrem comigo em sua luz”. E, na terceira, disse somente: “Mahadeva! Com o nome de Deus, entrego meu espírito”. O sol havia se escondido, um grande vento se fez, uma tempestade de neve inundou o Himalaia, e o céu se fechou. Os assassinos fugiram, e as duas mulheres caíram desmaiadas sobre o solo.

Reformador Iluminado
O corpo de Krishna foi queimado por seus discípulos na cidade santa de Dwarka. Saraswati e Nichdal se atiraram na fogueira para se unirem a seu Mestre; e a multidão acreditou ver o filho de Mahadeva sair das chamas em um corpo cheio de luz, subindo rumo ao infinito. Depois disso, uma grande parte da Índia adotou o culto a Vishnu, que conciliava os cultos solares e lunares na religião de Brahma (Deus).
Considerando o papel dominante de Krishna na tradição épica e religiosa, seu aspecto humano, por um lado, e sua identificação constante com Deus manifestado ou Vishnu, por outro, somos forçados a crer que Ele foi o criador do culto vishnuísta, que deu ao bramanismo sua virtude e seu prestígio. Portanto, é lógico admitir que, em meio ao caos religioso e social da Índia primitiva, com a invasão dos cultos naturalistas e apaixonados, apareceu um reformador iluminado que renovou a pura doutrina ária com a idéia da trindade e do verbo divino manifestado. Assim, Ele deu à Índia sua alma religiosa, sua forma nacional e sua organização definitiva. Mas a importância de Krishna nos parece ainda maior e de um caráter realmente universal se notarmos que sua doutrina encerra duas idéias-mãe dos princípios organizadores das religiões e da filosofia esotérica: a doutrina orgânica da imortalidade da alma ou das existências progressivas pela reencarnação; e a que corresponde à trindade ou verbo divino revelado ao homem.
Com Krishna, a noção messiânica entrou no mundo antigo; com Jesus, ela se irradiou para o Ocidente. Hoje, ela é difundida imensamente pela filosofia do Mestre atual, encarnado em nossa época, Sri Bhagavan Mitra Deva (o primeiro de uma sucessão de nove avataras), para que possamos chegar ao cume dessa história com a vinda do próximo Maha Avatar, que terá 100% da energia de Narayana. Ou seja, será Ele próprio, que virá com o nome de Kalki Avatar, aproximadamente daqui há doze mil anos (isso pode ser modificado pelo acréscimo do nosso nível conscencional). Aqui no Ocidente Ele é mais conhecido com o nome de Senhor Maytreia (também Mestre do Suddha Dharma Mandalam, morador de uma das cidades santas, em Badari Vana, localizada no norte do Himalaia).
Para terminar, recordarei uma passagem do Srimad Bhagavad Gita, na qual Arjuna questiona Krishna da seguinte forma: “Quem sou eu? E o Senhor respondeu: ‘Tu és, meu filho, tudo aquilo que eu sou’. Para que eu vivo? ‘Tu Vives para responder a todas as tuas perguntas’. Onde estás, ó Grande Deus? ‘E onde não estou?’”

Margareth G. Schulz (Devi Dasika)
Presidente Instrutora do Ashram Sarva Mangalam, do Suddha Dharma Mandalam, Seção Brasileira.
suddha@uol.com.br


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